- Não tem razão de se agoniar, amigo Fialho - contrariou mansamente Pantaleão. - Isto veio ao caso de você perguntar se tínhamos ouvido falar de sua mulher...
- Mas ouviram? - acudiu arrebatado o esposo de Ângela.
- Eu não! - condisseram os três simultaneamente: - mas você bem sabe - ajuntou Joaquim António, ressalvando melhor juízo - que a nós ninguém dizia nada porque sabem que o Fialho e nós somos carne e unha.
- Sim - obtemperou Pantaleão - pode ser que haja alguma coisa; mas pelo que eu sei não perde ela.
- Mas vocês entendem que o dinheiro não foi para esmolas... - repisou o marido incomodado.
- Sim, eu... - murmurou Joaquim.
- A falar a verdade... - disse outro.
- É muita esmola... - concluiu o terceiro.
- Não que o administrador disse que podia ser!... - sobreveio Fialho, casquinando uma risada gosmenta.
- O administrador é um asno! - definiu laconicamente Pantaleão.
- Asno e mais alguma coisa! - obtemperou Atanásio.
- E então dizem vocês - tornou o brasileiro - que eu devo meter já minha mulher num convento?
- Pudera... - apoiou o marido de Francisca Ruiva.
- Deve dar esse exemplo de moral pública! - confirmou o marido da maiata.
- E saber quem lhe comeu os brilhantes para se lhe dar cabo da casta! - adicionou o matador do caixeiro.
- E isto como há de ser? - volveu meditativo o interrogador dos honrados juizes de sua dignidade. - Eu não a quero ver mais diante de meus olhos!
- Também nos parece acertado isso... - conveio um dos três.
- Pois então, é mister que os meus amigos se encarreguem de lhe dizer que se recolha a um convento.
- Não me nego a servi-lo, Sr. Fialho, no que puder ser-lhe útil - disse magnanimamente Atanásio. - Os amigos conhecem-se nas ocasiões, percebe você? Quer então que vamos dizer a sua mulher que é preciso já já entrar num convento.