Você tem procuração dessa mulher?
- Tenho.
- Então que lhe pague com um trapo, física e...
- Pelo que ouço - interrompeu Fialho - vocês, amigos, decidem que minha mulher se porta mal...
- Pois isso! - confirmou Pantaleão. - Nem dado nem de graça! Você inda duvida?!
- Eu, como não tenho desconfiado nem visto nada...
- Pudera ver... - redarguiu o fiscal da Misericórdia.
- E vocês tem ouvido falar de minha mulher? - perguntou Fialho.
- Olhe, isto de falar, fala-se de todas - respondeu o marido da maiata. - Nem a minha tem escapado, cá por certos zunzuns que me chegaram aos ouvidos; mas vêm barrados cá p’ra mim, que eu sei quem tenho...
Pantaleão e Atanásio trocaram uns lances de olhos velhacos, em que Hermenegildo entrou com o seu contingente de fino maroto.
- Isso é verdade - apoiou o marido de Francisca Ruiva. - A gente, se for a dar ouvidos à canalha, está perdida com a sua vida. Um homem tem sempre rabos de palha. Mas eu ando tanto ao seguro cá a respeito da minha honra, que desafio o mais pintado a dizer de minha mulher isto ou aquilo.
Desta vez os olhos de Joaquim encontraram os de Atanásio, enquanto Fialho lá entre si dizia: “Estás arranjado com a virtude de tua mulher...”
- Meus amigos, - disse Atanásio a seu turno - isto é terra de calunias e aleivosias. A inveja vinga-se em nos ferir no mais sagrado de nossas almas. Aqui estou eu que...
O truculento homicida do caixeiro ia fazer o elogio da consorte, quando Barrosas bradou impacientemente:
- Então em que ficamos, senhores?
- Em que ficamos?! - perguntou Atanásio.
- Sim! Os amigos estão aí a palavrear em objetos que não vêm à colação. Ora que tenho eu que as suas mulheres sejam isto ou aquilo? Se são boas e virtuosas, dêem graças a Deus, e tratem de remediar este contratempo.