Após longos debates, em que todos falavam à mistura, convieram em que Fialho, como comerciante que era, se obrigasse por escritura a dividas excedentes ao valor dos seus bens imóveis, e desde logo alienasse os títulos bancários, e se cozesse com o dinheiro. A soberana razão que pôs os cinco alvitristas neste acordo, deve-se a Atanásio, o qual raciocinara desta laia:
- Amigo e compadre Fialho, não há que duvidar: sua mulher tem um homem a quem deu do dinheiro. Este homem há de aconselhá-la a separar-se de você para se dividirem os bens, percebe você? Se você os tiver, que remédio há senão reparti-los? O maior logro e castigo que você pode pregar a ela e mais ao patife é não ter nada que repartir. Hem?
A resposta geral foi um brado uníssono. E logo, no afogo do entusiasmo, sacrificaram a Quarta garrafa e uma bandeja de pastéis de Santa Clara.
- Mas se ela não quiser sair de casa? - perguntou Barrosas, acalmado o barulho.
- Você já não tem casa. A sua casa está vendida. Um de nós, quando o compadre quiser, vai tomar posse, e sua mulher recebe intimação judicial para despejo, percebe você? - respondeu enfaticamente Atanásio.
- Diz você bem, compadre - obtemperou Fialho - que eu tenho procuração dela em branco. Faz-se escritura da venda da casa. E nesse caso é preciso avisá-la que se mude quanto antes. Vamos ver se ela sai ao bem.
- Duvido; - atalhou Joaquim António Bernardo - aquilo é mulher finória e soberba. Sem ser por justiça, não a põe o amigo fora de casa.
Continuaram debatendo questões jurídicas ao propósito, em que as sandices se disputavam primazia, até que, chegada a hora de jantar, Hermenegildo foi hospedar-se em casa do compadre, reservando para a reunião do dia seguinte o plano definitivo.