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Capítulo 9: IX - Amores fatais

Página 42
Maria d’Antas era... um tu!

D. Beatriz pôs as mãos convulsas nos olhos quando leu tu na primeira linha, tu a primeira sílaba da carta, uma entrada assim suja e escandalosa numa missiva de caderno numerado de uma a dez páginas! E não leu mais do que aquele tu, porque em seguida apanhou-lhe o flato as potências da alma, e ela ficou a escabujar tão-somente com a potência de braços e pernas.

Ângela acudiu; Vitorina, aquela criada que o leitor já conhece, lá estava, e, nas mãos desta, a carta.

- Veja isto, menina, veja isto! - murmurou Vitorina. - Tanto lhe pedi que não lhe escrevesse...

Ângela sumiu a carta no seio, e tomou nos braços a tia. Chamou-a, beijou-a, pediu-lhe perdão, desbulhou-se em lágrimas, e deu graças a Deus quando a velha mandou fazer uma infusão de erva cidreira para aplacar a tempestade dos nervos.

Depois do que D. Beatriz obrigou a sobrinha a contar-lhe pelo miúdo a origem da sua correspondência com o irmão da costureira. Via-se a menina enleada para referir o mais singelo da história, que era a origem; mas a velha insistia em perguntar:

- Como foi o princípio disso?

- O princípio... foi... foi... eu vê-lo... - respondeu Ângela muito apertada.

Este começar a história dum primeiro e talvez eterno amor tem a sublimidade simples da origem do Universo, referida por Moisés: “No princípio era o Verbo”; com a diferença que o principiar de Ângela entende-se melhor.

- Então tu... - objetou a tia entre irônica e severa - viste-o, olhaste para ele, e mais nada... ficaste apaixonada!... Com efeito!... Eu ainda não me infirmei bem na cara desse sarrafaçal; mas, pela ideia que tenho, ele tem uma figura muito reles! Tu não sabias - continuou D. Beatriz, espiritando-se com uma pitada de vinagrinho - não sabias que ele é irmão da Joana, e cunhado do Zé tendeiro? E que o pai dele era sacristão da Senhora da Agonia, e que a mãe trabalhava com os bilros? Sabias isto?

- Sabia.

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 42

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174