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A criada louvava-se a si do conselho, e agradecia a Deus a honrada determinação do estudante, dando como terminado o lance em que o belo e rico futuro da sua menina corria perigo. Ângela, todavia, asseverava que tudo estava perdido para ela, e que só lhe restava reduzir-se à extrema pobreza e desvalimento do pai, a ver se assim o homem pobre e plebeu a queria para esposa.
Este plano, se viesse a realizar-se, era original, a meu ver; mas não sei que fados esquerdos se atravessam aos projetos épicos em matéria de casamento, se a poesia depende de uma casinha colmada, à ourela de um regato, com seis pés de couve na horta, e por cima lua, sol, estrelas e ar à discrição. A culpa de se malograrem estes sublimes intentos quem na tem é a sociedade, esta prosa derreada do gentio comum que assim que vêem pomba a librar-se três metros acima da lama, apedrejam-na, desasam-na, dão com ela em terra. É desgraça! Mulheres distintas com amores distintos é mister inventá-las. E maior desgraça ainda: as heroínas que se admiram e aplaudem no romance e no drama, seriam assobiadas, se tal gênero de pensar e viver se encarnasse em sinceras heroínas na vida real.
Ângela seria capaz de descer até nivelar-se com o irmão da Joana costureira; mas não a deixaram. Privaram-na de estremar-se do vulgar. Compeliram-na por maneira as circunstancias que não há aí maior rebaixamento onde pudesse ir sopesada uma alma primorosa em finezas de amor.
Vamos ver o que este mundo faz das mulheres que transcendem a craveira comum.
D. Beatriz, aconselhada pelo seu confessor, escreveu ao irmão precavendo-o contra a inclinação amorosa de sua filha, sem esconder o nome e a geração vilíssima do inquietador de Ângela. Por sua parte, a fidalga declinava de si a responsabilidade