Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: X - O Poeta

Página 50
de alguma consequente ignominia de família, admoestando o general a que levasse Ângela para sua casa, e lhe insinuasse com o preceito sentimentos de dignidade e faro mais senhoril na escolha dos maridos. Esta linguagem metafórica devia ser do frade confessor. Só um egresso, descassado das boas práticas de sala, daria a uma senhora faro na escolha de maridos, assim à guisa de perdigueira de dois narizes que fareja a volataria.

Simão Barbosa não se assanhou. Respondeu placidamente que transferisse Ângela para o convento, e lhe fizesse saber que a rebeldia lhe redundava em passar da condição de senhora à de criada. “eu não sei bem de quem ela é filha. Apenas lhe conheci a mãe”. Este homem, escrito isto, devia acrescentar: “Eu deveras não sou pai dessa mulher, porque pude escrever esta resposta sem sentir o mínimo abalo de ódio ou de piedade. Se me dissessem que ela tinha casado com o filho do sacristão, daria ordem a um lacaio que os enxotasse da minha porta com um tagante”. Era o ermo, o tédio, a doença, a irreligião, a covardia em aniquilar-se, que empedravam o coração do general.

Uma hora, em certa noite, dezassete anos antes... hora negra foi essa que lhe enoitou a vida inteira. Ululava-lhe desde essa hora nos ouvidos um grito de garganta abafada. Nenhum rir de festa, nenhum gemer de infelizes, nenhuma aurora de paz vingou mais distraí-lo daquela noite, e do som final de uma corda de vida que lhe estalou entre os dedos.

Quando Ângela recebeu as ordens de seu pai, já Francisco da Costa ia caminho do Porto.

Mas que homem é este? Que idade tem? Que figura? Que despropósito de coração é esse que se escusa com feminil pavor a fazer rosto à desgraça, raras vezes vencedora, se a paixão braveja e se esbraseia num formidável “quero”?

Francisco José da Costa, vai em vinte e dois anos.

<< Página Anterior

pág. 50 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 50

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174