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Capítulo 11: XI - Sonhos e esperanças

Página 57
O que ela aprendia era o Verbo, não o verbo que se conjuga; mas a palavra, o som que vibra, a corda virgem, a translucidação do sentir inexpressável, o definir da ideia confusa, a linguagem um tanto mística desta religião do amor que precisa revelação dos iniciados. Enfim, o Verbo.

Ora, muito era para ver-se a afoiteza com que a menina começou desde logo a escrever em um livrinho em oitavo, brochado por suas mão, uns pensamentos curtos e singelos, com o título de ESPERANÇAS! Mal emplumada ainda para librar-se a remontados lirismos, Ângela apenas avoejava de arbusto em arbusto, colhendo todas as suas imagens das flores, como a abelha a dulcidão dos seus favos.

Quando já tinha escrito algumas laudas, pediu, com adorável simplicidade, a Joana que entregasse o livrinho ao irmão, e acrescentou:

- Quando ele rasgar esse, eu rasgarei o que me ele mandou. E diga-lhe que se ele SONHA, eu ESPERO.

Joana satisfez o pedido com repugnância, e mormente quando viu Francisco por tanta maneira banhado de consolação que lhe batiam as artérias das fontes, colando o livrinho aos beiços.

Agora é que vai começar o período epistolográfico destes amores.

Joana, receosa de ser solicitada para medianeira em tão arriscada correspondência, evitava o ensejo de estar a sós com Ângela, e raramente, sem necessidade extrema, ia a casa de D. Beatriz.

Ângela, doida deste desafeto, granjeou imprudentemente os serviços duma criada, a quem entregou carta fechada para Joana. O conteúdo eram puerilidades, senão antes umas espertezas inocentes. Enviava ela duas folhinhas no formato das suas Esperanças, e pedia que fossem reunidas às outras. O dizer deste suplemento era já triste e queixoso: chamava-lhes ela aos pensamentos; Esperanças que fenecem. Se Francisco não estivesse presente, a irmã esconderia os papelinhos e iria pedir misericordiosamente à fidalga que se esquecesse de seu irmão, e empregasse amor onde lhe fosse permitido esperar felicidades.

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 57

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174