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- A nossa princesa é vossa excelência - tornou Rita.
- Princesas que as leve a breca! - interveio Fialho num lerdo assomo de republicanismo. - O que eu quero em minha casa são pessoas amigas, que não obrigam a “intequetas” nem outras aquelas.
- Se me recebem com cerimonias - acudiu a filha do general - poucas horas estaria contente neste paraíso.
- Toca a saber o essencial - disse o brasileiro. - A senhora jantou? São cinco horas.
- Não jantamos, nem temos vontade.
- Hão de comer do que houver. Rita, carne assada, fiambre, salame, e peixe frito p’ra mesa. O café hei de ir fazê-lo eu. Aqui, quem quiser estar em minha casa, há de comer e beber, passear e dormir. Divertimentos não nos há, a não ser alguma chulata cá dos labrostes da terra. A gente aqui passa três meses na chácara, e depois vai em a cidade passar o Inverno, que eu tenciono lá abrir escritório de consignações, e fazer dois ou três navios p’ra me entreter, que graças a Deus não preciso, sou solteiro, e os meus parentes, não falando cá na Rita, são os dentes, diz lá o ditado.
Hermenegildo era loquacíssimo deste feitio, e de certo modo pitoresco na linguagem.
Ângela engraçava com aquela rudeza indicativa de bom feito de bruto. O sorriso dela não era mordente, nem o lance de olhos observador. A novidade do tipo, o plebeísmo do dizer, a redondeza da pessoa, a cara espirando alegria e uma saúde oleosa, tudo isto que aceraria a sátira da mulher dum alfaiate de Lisboa, produzia na fidalga bem condicionada uma inofensiva hilaridade, com a qual o brasileiro se comprazia.
Dobaram-se dias bonançosos para Ângela. Esses seriam porventura, os mais quietos de sua vida, se, a reveses, lhe não enublasse o espírito o incerto destino de Joana e seu irmão.
Rita, sem ser rogada, mandara lançar inculcas no Porto sobre descobrir se ali viviam os dois irmãos.