Não colhera indício algum. Apenas soubera que Francisco José da Costa começara a frequentar em 1839 o primeiro ano da escola médico-cirúrgica, e abandonara os estudos em meio do ano. Quanto a Joana, vestígio nenhum levou os indagadores ao sótão da Rua-escura. Vitorina estava sempre encontrando com judiciosas reflexões o cuidado que dava a sua ama o destino da família do merceeiro, a fim de a ir desatando de recordações prejudiciais a reconciliar-se com o general. Neste louvável desígnio pedia a Rita que, se descobrisse a paragem de Joana, se calasse com o segredo para afastar novos dissabores, e a pior das calamidades, que seria fidalga casar com Francisco.
- Credo! - exclamou a irmã de Hermenegildo, dois meses antes cozinheira da abadessa. - Credo! Anjo da guarda! Pois uma fidalga assim, filha dum general, e linda como os amores, havia de casar com um pobretão?! Não me diga isso, Sr.ª Vitorina! Esta senhora, se quiser casar, encontra marido que mede o dinheiro às rasas, e tem quintas e palácios, e tudo quanto cobre a rosa do sol, e que se pode comprar com dinheiro. Vossemecê não me entende?
Vitorina parecia não entender.
- Pois vossemecê não me entende?! - tornou Rita aconchegando-se dela. - Então eu lhe conto o que se passa, e vossemecê vai ficar espantada. Faz hoje três semanas que chegou, não faz?
- É verdade.
- Pois neste pouco tempo meu irmão ganhou uma tal simpatia à menina que não faz outra coisa senão dizer-me que ela é muito bonita, que é muito discreta, que é muito bem feita de corpo, que é isto, que é aquilo, que é aqueloutro. Não faz ideia, Sr.ª Vitorina! E olhe lá que eu caia em lhe dizer os amores que ela teve com o tal Francisco! Nessa não cai a Rita... Ontem era uma hora da noite, e ele ainda estava no meu quarto a batalhar p’ra que eu lhe dissesse se a fidalga inda viria a gostar dele.