Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 15: XV - Meio milhão! Pág. 80 / 174

Pelo que, a união do plebeu ricaço com a fidalga pobre não se lhe afigurou absurda, e muito menos milagrosa, como dizia a consternada Rita, na sua exposição. Possuída, portanto, destes sentimentos indiciativos de ilustração inata, Vitorina respondeu deste modo consolativo:

- Sr.ª Dona Rita...

- Não me chame Dona. Eu sou Rita de Barrosas, já lho disse um cento de vezes, e mais à sua ama. Meu pai era tamanqueiro, torno a dizer-lhe. Se um vestido de seda e um relógio de oito dá dom a quem o não tem, em pouco está o dom, e não no quero.

- Pois sim, seja como quiser. O que eu lhe digo é que seu irmão não deve descoroçoar. Minha ama tem-me falado dele com ar de amizade, e gosta muito de ouvi-lo. Quem é amiga pode ser o resto. Deixe estar, Sr.ª Dona Rita...

- E ela a dar-lhe... - atalhou a outra. - Rita, Rita...

- Esquecia-me... Deixe estar que eu hei de sondar a minha ama...

- Porque olhe vossemecê - acudiu alegremente a irmã do brasileiro - eu tenho muito medo que meu irmão se apaixone por alguma destas senhoritas cá de Barrosas que andam a armar-lhe a rediosca com presentinhos de queques e ramos de flores. O doutor das Lamelas já cá trouxe três filhas de visita; umas espinifradas com uns grandes pentes, a darem-me senhoria a mim, e por detrás a escarnecerem de meu irmão. Pois quer vossemecê saber? O doutor teve o descoco de dizer ao meu Hermenegildo que as suas filhas eram todas tôdas muito amigas dele, e que qualquer delas se daria por feliz ficando nesta casa! Salvo seja! Eu as arrenego! Longe vá o agouro! Meu irmão, que é finório ali onde o vê, respondeu que estava já velhote para casar, e que era muito doente do interior. O homem não tornou cá, nem as pelintronas das filhas, que hão de pôr a cara onde a Sr.ª D. Ângela põe os pés para serem fidalgas.





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