Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: XV - Meio milhão!

Página 82

- Pois isto é um modo de falar; que vossemecê há de ficar sempre conosco enquanto for viva.

Pouco depois, Ângela escutava a exposição de Rita fielmente reproduzida pela criada, tirante as ridiculezas que a sagaz Vitorina omitiu como desconvenientes à gravidade do assunto.

Não obstante a compostura da velha, Ângela sorria-se e duas vezes abafou os froixos da gargalhada. Finda a relação, a filha de D. Maria d’Antas reconcentrou-se, apanhou as fontes nas mimosas mãos e murmurou:

- Qual virá a ser o meu destino?...

Esta pergunta era o epílogo de mil confusas ideias que se lhe embaralhavam na alma, umas sublimes, outras baixas até ao vilíssimo lodo que originariamente foi costela de homem. Com a qual costela bem podem dar-nos na cara as malfadadas a quem frechamos de sátiras, quando uns fumos iriados do prestígio, que lhes doira a nossa poesia, se rarefazem.

- Qual virá a ser o meu destino?

Que interrogação!

É a mulher sem parentes que a faz.

É a mulher que conheceu a pobreza.

E o desamparo.

E o desprezo dos seus.

E as injúrias caluniosas, sem que Deus ou a sociedade a vingassem e a ilibassem.

É a mulher que não vê aurora de melhor dia;

Que um mês antes quase esmolara o custo da passagem dum albergue de caridade para outro;

Que se despenhara das canduras dum primeiro amor à mais rasa, à mais estranha e imprevista miséria.

- Qual virá a ser o meu destino?

Há neste interrogar-se uma abdicação, um alienar direitos de dispor do que quer que seja aspirações a felicidade.

Porque é tudo escuridade e amargura em sua alma. Amargura, se se recorda; escuridade, se olha adiante.

A riqueza, que se lhe oferece, não é a que ela desejava. O meio milhão deste homem não servirá a resgatar da pobreza a família do homem assassinado por sua tia.

<< Página Anterior

pág. 82 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 82

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174