- Jesus! - balbuciou a atribulada menina.
- Então? - instou a suplicante velha. - então, minha senhora!...
- Pois a Sr.ª Rita cuida que a minha promessa salva seu irmão?! - argumentou Ângela.
- Cuido, cuido, porque Nossa Senhora há de ouvir a promessa dum anjo!
- Pois... sim - gaguejou a violentada senhora.
- Casa com ele? - acudiu Rita, radiosa de esperança.
- Sim... caso...
Levantou-se Rita com exultação de mentecapta, entrou no quarto do enfermo, e chamou-o tão estrondosa e vertiginosamente que o homem abriu os olhos, as ventas, e a boca, tudo a um tempo e medonhamente.
- Olha que a Sr.ª D. Ângela fez a Nossa Senhora dos Remédios a promessa de casar contigo, se tu melhorasses.
- Hum... - fez Hermenegildo, e quedou-se extático a olhar para a jubilosa cara de Rita, e ela a repetir-lhe até quarta vez a notícia.
E, ao mesmo tempo, Ângela soluçava e estalejava com os dentes vibrados por um frio nervoso. E Vitorina, a fim de consolá-la e tirar-lhe a carga da promessa, dizia-lhe:
- Não se aflija, menina, que o homem não escapa! Quando vossa excelência casar com ele, dou licença que me enforquem.
Voltou o médico Segunda vez naquele dia, e achou o homem menos febril, e a língua mais úmida. No seguinte, a febre foi menor; e o suor da noite quase insensível. Ao outro dia, como o doente já desemperrasse a língua para dizer que a dor o deixava respirar livremente, o médico, voltado para Rita e Ângela, declarou, com vaidade de ter restaurado um moribundo, que o doente estava livre de perigo, e ia entrar em convalescença.
E, dentro em pouco, entrou a bolear-se, a arredondar-se, a pele a encher, as orelhas a enconchar-se com um escarlate de coralinas, o nariz a vestir-se de tegumentos, o todo enfim do carão a luzir e a estilar sorosidades de sangue novo que parecia uma espumadeira de tomates.