Quero que seu irmão continue os seus estudos. Quero restituir-lhe o que perdeu com a morte de seu marido...
- Ó minha senhora, vossa excelência...
- Deixe-me falar. Quero que seu irmão nem em sonhos possa conjecturar donde a minha amiga recebe os recursos. Ajude-me a pensar; como há de ser isto? Como poderemos nós enganá-lo?
- Não sei, minha senhora... Meu irmão sabe que eu nada tenho, e que os nossos parentes todos são pobres...
- Eu pensei toda a noite nisto. Inventei uma mentira inocente. Veja se tem jeito... Parece-me que sim... A minha querida amiga finja que uma pessoa de Viana, que não se declara, ficou devendo em consciência a seu marido certa quantia de dinheiro, e quer restituí-la porque tem remorsos de ter contribuído para a perda e morte do Sr. José Maria. Compreende?
- Sim, minha senhora; mas...
- Espere. Ouça o resto. Essa pessoa diz na carta que irá remetendo, de tempo a tempo, a quantia que deve, e declara que não é pequena a restituição. Para que seu irmão possa, sem receio de ser interrompido por falta de meios, continuar o seu curso. Que lhe parece?
- Não me parece mal; mas se meu irmão quer entrar em averiguações...
- Na carta há de dizer a pessoa que das averiguações, se se fizerem, resulta a suspensão dos pagamentos, porque o restituidor não se esconde de Deus, mas quer esconder-se do mundo. Pensei em tudo.
- Mas quem há de escrever a carta? - argumentou Joana.
- Olhem a grande dificuldade! Escrevo-a eu.
- Mas ele conhece a letra de vossa excelência...
- Que novidade! Deixe-me acabar... Escrevo-a eu, e Vitorina chama um rapaz da escola, e paga-lhe para que a copie; e, depois, a carta finge-se trazida por um sujeito desconhecido, que a procura em sua casa enquanto seu irmão está no escritório, e lha entrega com este dinheiro.