Mas que queria? que eu ficasse ao lado do meu marido, amando este, numa mentira perpétua, vivendo alegremente instalada na infâmia? Essa situação nunca! É suja! Ao menos isto é franco. Rompo com o mundo, sou uma aventureira, fico sendo uma mulher perdida, mas conservo-me para um só e sendo pura para ele.
- Catain Ritmel, disse eu, então mande deitar uma lancha ao mar.
- Que quer fazer? gritou a condessa.
- Eu? ganhar a terra. Acha que também não é uma infâmia instalar-me neste navio?
- Está louco, disse Ritmel, há só um escaler a bordo. O vento cresce, o mar incha. O escaler não se aguentará dez minutos.
- Melhor! Um escaler ao mar! gritei eu.
- Ninguém se mecha! bradou Ritmel.
E voltando-se para a condessa:
- Mas diga-lhe que é a morte! Que cumplicidade tem ele? Foi forçado, foi levado. Não responde por nada.
- Um escaler ao mar! gritava eu.
Mas, de repente, Ritmel tomando um machado correu ao bordo donde pendia o escaler, cortou as correias de suspensão; o barco caiu na água com um ruido surdo, ficou jogando sobre as ondas meio voltado, sobrenadando como um corpo morto.
Eu bati o pé, desesperado.
- Ah que infâmia! capitão Ritmel! Que infâmia!
E por uma inspiração absurda, querendo desabafar, fazendo alguma coisa de violento, gritei para alguns marinheiros que estavam à proa:
- Há algum inglês aí que preze a sua bandeira?
Todos se voltaram admirados, mas sem compreender.
- Pois bem! gritei eu, declaro que esta bandeira cobre uma torpeza, tem a cumplicidade da desonra, e que é sobre toda a face inglesa que eu cuspo, cuspindo no pavilhão inglês.
E correndo à popa cuspi, ou fiz o gesto de cuspir sobre a larga bandeira inglesa. Um dos marujos então decerto compreendeu porque teve um movimento de ameaça.