Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 28: QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I

Página 158

Obrigado a dizer alguma coisa, soltei instintivamente as palavras monstruosas de uma formula que se usa em Viseu, mas que estou bem certo nunca até esse dia tinham sido ouvidas por tal criatura, e que certamente lhe produziram o efeito do grito estridulo de um animal selvagem, escutado pela primeira vez entre matos desconhecidos.

Vergonha eterna para mim! essas palavras, que eu desgraçadamente conservara no meu ouvido de provinciano e que a minha boca deixou bestialmente cair, foram estas:

- Para o que eu prestar estou sempre às ordens.

E dizendo isto, tendo-o ouvido com horror a mim mesmo, voltei rapidamente costas, e afastei-me a passos largos. Ia vexado, envergonhado, corrido, como se tivesse proferido uma obscenidade sacrílega. Dava-me vontade de me meter pelas paredes ou de me sumir pela terra dentro! Não me atrevia a olhar para traz, mas parecia-me que ia envolto em gargalhadas fantásticas, que não ouvia. Figurava-se-me que tudo se ria de mim, os candeeiros, os cães notívagos, as pedras da rua, os números das portas, os letreiros das esquinas, os aguadeiros que passavam uivando com os seus barris, e os caixeiros que pesavam arroz sobre o balcão ao fundo das tendas.

Entrei precipitadamente em casa, subi as escadas, fechei-me por dentro e pus-me a passear às escuras no meu quarto.

Nas trevas apareciam-me iluminadas por um clarão satânico essas duas mãos que pela primeira vez acabavam de se apertar na rua - a minha e a dela - uma trigueira, áspera e quente, a outra branca, nervosa e gelada. Depois entravam a reconstruir-se à minha vista os vultos completos das pessoas.

Ela, de uma palidez ebúrnea, com o perfil melancólico de uma madona a que tivessem levado dos braços o seu bambino, movendo-se molemente entre rendas e cetim com uma ondulação de sereia.

<< Página Anterior

pág. 158 (Capítulo 28)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 158

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240