Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 28: QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I

Página 160
Para compensar estas depressões assistia-lhe uma superioridade repugnante, inadmissível: a que procede da casta. Um berço de luxo, uma constituição delicada, um leito de penas, a infância resguardada na sombra, entre estofos, sobre tapetes, ao som de um piano, - isto basta, para que fique ridículo, miserável, desprezível ao pé dela um homem que se criou ao clarão do dia, à luz do sol, tendo por tapetes a aspereza das montanhas, e por melodias o roncar das carvalheiras e o gemer dos pinhais!

E entre mim e ela será isto perpetuamente uma barreira.

Ela ficará sempre bela, dominativa, sedutora por natureza, instintivamente cativante, querida, amimada, estremecida, dentro da sua zona de aromas, de veludos, de cristais e de luzes!

Eu, entre a minha estante de pinho adornada com um boneco de gesso e a minha cama de ferro coberta de chita, ficarei sempre tenebroso e inútil, - desgraçado quando não quiser tornar-me tão ridículo, e irrisório quando tiver a vaidade de não querer ser desgraçado!…

Acendi as duas torcidas do meu candeeiro de latão e tentei estudar. Impossível. As letras de um livro que tinha aberto diante de mim percorri-as com a vista pelo espaço de três ou quatro páginas, maquinalmente, sem compreender o sentido de uma só palavra. Deixei o livro e fiquei por algum tempo inerte, estupido, neutro, com a vista fixa nas orbitas ocas de uma caveira que tinha sobre a mesa, e que se ria para mim com o escancelado sarcasmo que trazem da cova os esqueletos desenterrados. Aborrecia-me a vida. Apaguei a luz, despi-me e deitei-me.

Tinham-me feito a cama nesse dia com dois desses lenções de folhos engomados, com que a minha mãe enriquecera liberalmente o meu baú de estudante. Estes lenções tinham a aspereza do linho novo e o cheiro característico do bragal da província.

<< Página Anterior

pág. 160 (Capítulo 28)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 160

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240