Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 31: CAPÍTULO IV

Página 176
que incomparável angustia devia ter passado em algumas horas por este desgraçado corpo para o devastar assim!

Na rua, a pequena distância, um realejo tocava um pot-pourri de várias óperas, e, ao som desse corrido martelar idiota da música mecânica, pareceu-me ver desfilar em louca debandada no ar, entre mim e a pobre senhora, como numa espécie de evocação ao mesmo tempo trágica e grotesca, todos os grandes símbolos das educações sentimentais, ladainha viva das paixões elegantes, girando sob a manivela do seu realejo, num redemoinho fúnebre, de dança dos mortos, em torno desse corpo desfalecido, como as visões da vida passada, figuradas nos velhos retábulos, em torno do leito das monjas moribundas.

Era como se, no decorrer dessa música, automática como um andar de sonâmbulo, eu visse perpassar no espaço a grande ronda das tentações que na vida levaram consigo o destino desta criatura: os pálidos Manriques e os febris Manfredos, trazendo sob a capa das poéticas aventuras a bravura cavaleirosa de campeador Rui de Bivar ou do paladino Rolando, a melancolia de Hamlet, a exaltação sentimental de Werter, a revolta do Fausto, a sociedade de D. Juan, o tédio de Childe Harold; e toda a legião dramática das belas mulheres amadas: Francesca, Margarida, Julieta, Ofélia, Virgínia e Manon.

E, em grinalda de beijos secos, de beijos de pau, matraqueados no instrumento da rua, todas essas figuras de amorosas legendas bailavam misteriosamente ao som da Traviata, da Lúcia, do Bale in maschera.

- Amor! amor! amor! - tal foi decerto a letra da grande aria que constantemente lhe cantaram através de toda a sua existência de mulher bela, instruída e rica.

Foi nesse mundo moral que a sua imaginação habitou e que se fez o seu pobre espirito de linda criatura ociosa e desejada.

<< Página Anterior

pág. 176 (Capítulo 31)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 176

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240