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Capítulo 31: CAPÍTULO IV

Página 177

Como poderia ela adivinhar a honesta serenidade dos destinos simples no meio de uma existência tão complicadamente artificial como a sua?

Fora dos interesses da elegância, da moda, talvez da arte, que conhecia ela de serio e de grave na vida senão a religião e o amor? Tinha um missal e um marido. É pouco para o equilíbrio de uma alma, principalmente desde que o missal cessa de convencer e o marido cessa de amar.

As que tem um salão, uma carruagem, um camarote na ópera, um cofre cheio de joias, um quarto cheio de vestidos, não podem ser as singelas mulheres que passam a vida a dar de mamar aos filhos e a vender cerveja, como diz o Iago, de Shakespeare; nem podem resumir o seu destino fácil em ter filhos, chorar e fiar na roca, como diz Sancho Pansa. Esta não vendia cerveja, não a ensinaram a fiar… Chorou apenas.

Quem sabe se na sua dourada existência a amargura das lágrimas a não compensou hoje de tudo quanto ignora da amargura da vida!

E tive uma paixão sincera com um remorso profundo das palavras cruéis que lhe dissera.

Que poderia eu fazer para a salvar? Não o sabia. Achava-me porém resolvido a tudo, a sacrificar-me inteiramente, para lhe valer.

Devo dizer também que, vendo-a, ouvindo-a, eu não supus nem por um momento que no homicídio de que ela se acusava pudesse haver o que se chama verdadeiramente um crime, isto é, uma intenção infame ou perversa. Um criminoso, um cobarde, um assassino, nem chora assim, nem fala assim, nem se denuncia, nem se inculpa, nem se entrega por esta forma a uma pessoa quase estranha, quase desconhecida. Ela tinha-mo dito com a mesma simplicidade com que o gritaria da janela para a rua, sem a mínima preocupação de se salvar. Cheguei a pensar por um momento que não tinha diante de mim senão uma estranha nevrose, um caso de alucinação, de delírio raciocinado.

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pág. 177 (Capítulo 31)

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Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 177

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240