O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 31: CAPÍTULO IV Pág. 178 / 245

Mas o delírio não faz padecer tanto. Tenho visto muitos loucos no hospital. A expressão deles, ainda a mais dolorida, não apresenta nunca a profundidade desta. É preciso ter toda a integridade da sensibilidade e da razão para sofrer assim. No padecimento dos loucos há um não sei quê, sem nome talvez na sintomatologia do sofrimento, mas a que poderíamos chamar - a isolação da alma.

Ao voltar a si, a condessa parecia um pouco mais calma. Para evitar um recrudescimento de excitação proveniente de uma longa narrativa de episódios que me pareceu discreto evitar, um pouco como estudante de medicina, principalmente como homem honrado, disse-lhe:

- Sabe mais alguém deste caso? - Sabe-o a minha criada de quarto, a que me acompanhava ontem quando nos viu, e sabê-lo-á dentro em pouco meu primo H… a quem hoje escrevi. O meu primo porém está em Cascais. O morto é um estrangeiro. Ninguém, a não ser meu primo, o conhece em Lisboa. Ignorava-se mesmo que ele existisse aqui. Entrega-lo aos trâmites policiais, ter de revelar o seu nome, descobrir a sua naturalidade, a sua família, eis o que principalmente eu queria evitar. Conseguido isto, entrego-me aos tribunais, mato-me, fujo, enterro-me viva… como quiserem!

- E sabe seu primo como ele morreu?

- Não. Vai saber apenas que está morto…

- Pode contar com o silêncio da sua criada, por alguns dias ao menos?

- Posso. Por toda a vida.

- Evite, se pôde, que o seu primo receba hoje a sua carta. E… ele, onde está?

- Na mesma rua em que nos encontrámos ontem, no prédio n.º…

- Para entrar na casa…

- Há uma chave - respondeu ela.

E tendo meditado um momento:

- Ontem - prosseguiu - quando lhe disse que viesse hoje a minha casa, estava louca de desesperação e de horror. Parecia-me





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