O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 5: CAPÍTULO IV Pág. 21 / 245

Os outros cercaram-no, olhando rapidamente para F…, que tinha ficado impassível. Um dos mascarados, que não tinha ainda falado, o que na carruagem viera em frente de mim, a todo o momento observava o meu amigo com receio, com suspeita. Houve um longo silêncio. Os mascarados, a um canto, falavam baixo. Eu no entanto examinava a sala.

Era pequena, forrada de seda em pregas, com um tapete mole, espesso, bom para correr com os pés nús. O estofo dos móveis era de seda vermelha com uma barra verde, única e transversal, como têm na antiga heráldica os brasões dos bastardos. As cortinas das janelas pendiam em pregas amplas e suaves. Havia vasos de jaspe, e um aroma tépido e penetrante, onde se sentia a verbena e o perfume de marechala.

O homem que estava morto era novo, de perfil simpático e fino, de bigode louro. Tinha o casaco e colete despidos, e o largo peitilho da camisa reluzia com botões de perolas; a calça era estreita, bem talhada, de uma cor clara. Tinha apenas calçado um sapato de verniz; as meias eram de seda em grandes quadrados brancos e cinzentos.

Pela fisionomia, pela construção, pelo corte e cor do cabelo, aquele homem parecia inglês.

Ao fundo da sala via-se um reposteiro largo, pesado, cuidadosamente corrido. Parecia-me ser uma alcova. Notei admirado que apesar do extremo luxo, de um aroma que andava no ar e uma sensação tépida que dão todos os lugares onde ordinariamente se está, se fala e se vive, aquele quarto não parecia habitado; não havia um livro, um casaco sobre uma cadeira, umas luvas caídas, alguma destas mil pequenas coisas confusas, que demonstram a vida e os seus incidentes triviais.

F…, tinha-se aproximado de mim.

- Conheceste aquele a quem caiu a mascara? perguntei.

- Não. Conheceste?

- Também não.





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