A pele era fina, pálida, o cabelo castanho, levemente anelado.
A carruagem seguiu um caminho, que pelos acidentes da estrada, pela diferença de velocidade indicando aclives e declives, pelas alternativas de macadam e de calçada, me parecia o mesmo que tínhamos seguido na véspera, no começo da aventura. Rodámos finalmente na estrada larga.
- Ah, doutor!, dizia o mascarado com desenfado, sabe o que me aflige? É que o vou deixar na estrada, só, a pé! Não se pode remediar isto. Mas não se assuste. O Cacem fica a dois passos, e aí encontra facilmente condução para Lisboa.
E ofereceu-me charutos.
Depois de algum tempo, em que fomos na maior velocidade, a carruagem parou.
- Chegámos, disse o mascarado. Adeus, doutor.
E abriu por dentro a portinhola.
- Obrigado! acrescentou. Creia que o estimo. Mais tarde saberá quem sou. Permita Deus que ambos tenhamos no aplauso das nossas consciências e no prazer que dá o cumprimento de um grande dever o derradeiro desenlace da CENA a que assistiu. Restituo-lhe a mais completa liberdade. Adeus!
Apertámo-nos a mão, eu saltei. Ele fechou a portinhola, abriu os stores e estendendo-me para fora um pequeno cartão:
- Guarde essa lembrança, disse, é o meu retrato.
Eu, de pé, na estrada, junto das rodas, tomei a fotografia avidamente, olhei. O retrato estava também mascarado!
- É um capricho do ano passado, depois de um baile de mascaras! gritou ele, estendendo a cabeça pela portinhola da carruagem que começava a rodar a trote.
Via-a afastando-se na estrada. O cocheiro tinha o chapéu derrubado, uma capa traçada sobre o rosto.
Quer que lhe diga tudo? Olhei para a carruagem com melancolia! Aquela carruagem levava consigo um segredo inexplicável. Nunca mais veria aquele homem.