O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 12: CAPÍTULO III Pág. 66 / 245

Coitados!… Os passos daquele que ainda hoje talvez se despediu da vós contando voltar a encontrar-vos poucas horas depois, não tornarão a medir o caminho da casa em que o esperam; a sua voz não responderá mais à voz que o chame; os seus olhos nunca mais se embeberão nos olhos que o fitavam; os seus lábios não voltarão outra vez a aproximar-se dos lábios que se colavam nos dele!

Eu não choro a tua memória, porque não te conheço, porque nunca nos encontrámos, porque não sei quem és. Mas não quero insultar a dor que adeja sobre a tua morte, deixando-me dormir na mesma casa em que jazes insepulto, em quanto alguém te espera vivo no mundo.

Foi impelido por estes sentimentos, meu querido amigo, que eu me levantei da cama em que me estendera e vim para a mesa em que ceei, passar a noite escrevendo-te estas longas páginas, que decerto estimaremos ler um dia, em disposição de espírito bem diferente daquela em que ambos nos achamos hoje.

Tinha em pouco mais de meio a narração que te estou fazendo, quando o silêncio que me envolvia, cortado apenas pelo frémito da minha pena no papel, foi interrompido pelas vozes dos mascarados falando baixo no aposento que atravessei antes de entrar naquele em que estou. Tinha terminado o parágrafo anterior a este quando o mesmo rumor se repetiu, e tive então curiosidade de escutar o que se dizia. Aproximei-me da porta e colei o ouvido ao buraco da fechadura, pelo qual nada via. Não sendo natural que os nossos aprisionadores estejam às escuras, é provável que haja um corredor, uma passagem ou um pequeno quarto entre aquele em que eu me acho e o quarto próximo em que eles falam. Não podia perceber o que diziam. Apenas de vez em quando alguma palavra solta e destacada me chegava ao ouvido. Dispunha-me





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