a vir continuar a escrever ou a terminar esta carta, quando um levantou mais a voz e eu ouvi distintamente estas palavras:
- Mas as notas de banco, 2:300 libras em notas! Não as trazia ele?
- Sei que as trazia, dizia outra voz.
- É atroz então!
Estas palavras, únicas que ouvi, fizeram-me a impressão que podes calcular!
É provado para mim que a casa a que fomos trazidos não é um simples ninho consagrado a entrevistas de amor, como eu primeiro supus. Das hipóteses do prussiano é absolutamente necessário aceitar uma: isto ou é uma casa de jogo ou uma loja maçónica. Assim o provam convincentemente os ruídos que se ouviam na morada contígua. Num retiro de paixões ternas não se escancaram risadas a horas mortas ao som do dinheiro que telinta nas mesas. A referência dos vultos misteriosos feita pela vizinhança permite a suspeita de reuniões secretas. O tinir do ouro, as risadas, o mesmo aspeto do boudoir em que estivemos não consentem duvidar-se que esta casa é uma caverna de jogo e de orgia.
As palavras que há pouco ouvi sugerem-me sobre estas suposições a mais tenebrosa suspeita.
O desgraçado que jaz aí dentro podia ter sido vítima de um homicídio, premeditado com o intuito de roubar-lhe a quantia que ele trazia consigo.
Ocorre uma contradição: na sugerida hipótese para que foram buscar um médico? Explicam-no as palavras que ouvi. Os criminosos, que tinham propinado ópio à sua vítima com o intuito de a roubarem, encontram iludido este projeto com o desaparecimento das notas que lhe supunham na algibeira. Nesta conjetura sobrevêm-lhes um recurso extremo: procurar um médico que não possa denunciar o crime, mostrar-lhe o ópio, e quererem por esta prova de zelo, de solicitude, de confiança na sua inocência, afastar de si a presunção do crime, e criar as dificuldades de um mistério! É possível que eu não atinja exatamente a verdade do que se passou.