O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 12: CAPÍTULO III Pág. 69 / 245

Estou vivamente inquieto, sobressaltado, cuidadoso.

F… é um homem arrebatado, irascível, pundonoroso até o delírio. Receio do seu carater e da violência das suas determinações uma explosão que teria podido talvez ser-lhe fatal.

Apresso-me porém a declarar-lhe, senhor redator, que discordo completamente da opinião dele enquanto à qualidade moral das pessoas com quem estivemos reunidos na casa onde encontrámos o cadáver.

O mascarado alto, com quem tive ocasião de falar por mais tempo, não pode ser um assassino cobarde. F… demorou-se pouco tempo connosco, não pôde atentar nos indivíduos que o rodeavam. Ouviu apenas uma frase, que para mim próprio é ainda inexplicável e terrível, e baseou nela a sua indignação e o seu odio.

Eu tratei apenas com um desses homens - o mais alto - mas com este falei incessantemente durante todo o espaço de uma noite. Não podia estudar-lhe os movimentos da fisionomia, mas via-lhe os olhos grandes, luminosos, cintilantes. Ouvia-lhe a voz metálica, pura, clara, vibrante, obedecendo naturalmente, na modulação das inflexões, ao fluxo e ao refluxo dos sentimentos.

Nas discussões que tivemos, na conversa que travámos, nos diversos incidentes que acompanharam o inquérito de A. M. C., escutei-lhe sempre com interesse, com simpatia, algumas vezes com admiração, a palavra sincera, fácil, despresumida, espontânea, original, pitoresca sem literatismo, eloquente sem propósitos oratórios, - límpido espelho de uma alma enérgica, integra, perspicaz e sensível. Tinha arrebatamentos entusiásticos, indignações convictas, concentrações melancólicas, que se via provirem desse fundo desde que todas as naturezas privilegiadamente boas e honestas têm no íntimo da sua essência. Pareceu-me finalmente um coração leal





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