O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 12: CAPÍTULO III Pág. 74 / 245

M. C.

Disse-lhe na minha primeira carta, senhor redator, que eu ia com o auxílio único da minha coragem e da minha astucia, pôr-me ao serviço da curiosidade de todos, procurando penetrar e desfiar a tenebrosa história que há mais de uma semana, vem todos os dias sucessivamente, no folhetim do seu jornal, apresentar diante de um publico atónito um quadro misterioso e lúgubre.

Não pude, porém, descobrir nada: indagações, interrogatórios, visitas aos lugares, tudo foi inútil. A história perde-se cada vez mais numa nevoa que a afoga: e o meu pobre M. C. lá está ainda - não sei se num retiro voluntario, se numa sequestração forçada.

Na impossibilidade de descobrir, fisicamente, por essas ruas, a verdade, resolvi ir busca-la às mesmas cartas do doutor. Analisei-as, decompu-las palavra por palavra. E sem contar os processos, apresento os resultados.

O Mistério da estrada de Sintra é uma invenção: não uma invenção literária, como ao princípio supus, mas uma invenção criminosa, com um fim determinado. Eis aqui o que pude deduzir sobre os motivos desta invenção:

Há um crime; é indubitável; é claro. Um dos cúmplices deste crime é o doutor ***. Ele está envolvido no anonimo: não tenho por isso dúvida em apresentar esta acusação formal. Se o seu nome fosse conhecido, se as suas cartas estivessem assignadas, eu, só com provas judiciárias, me atreveria a escrever esta grave afirmativa.

Sim, o doutor *** é o cúmplice de um crime: o meu pobre amigo M. C. é um desgraçado incauto, sobre quem se querem fazer recair as suspeitas que se possam ter já, e as provas que mais tarde venham a juntar-se. Este crime, que existe, aparece-nos envolvido nas roupas literárias de um mistério de teatro. As cartas do doutor *** são um romance pueril.





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