— Será que não compreende que é isso mesmo que quero? A senhora vai ser obrigada a contar-lhe... bom, acho que já tem muito que lhe contar!
A euforia com que aquelas palavras foram pronunciadas deu-me de novo a coragem necessária para poder enfrentá-lo.
— E quanto a si, Miles? Posso saber o que tem para lhe contar? Por certo que ele lhe perguntará algumas coisas.
— Sim, é bastante provável. Mas... que coisas?
— Aquilo que nunca me contou. Ele acabará por decidir o que fazer consigo. Já sabe que o seu tio não vai mandá-lo de volta...
— Mas eu não quero voltar para lá! — exclamou o garoto, exaltado. — Quero experimentar algo novo.
Esta última frase foi pronunciada com uma enorme serenidade, à qual veio juntar-se uma nota de alegria. Foi justamente este último pormenor que me levou a imaginar o quadro de uma tragédia infantil: a do seu regresso a Bly passados três meses, de novo coberto de desonra. Percebi que nunca conseguiria suportar semelhante imagem, o que bastou para que a emoção voltasse a dominar-me. Quase que me atirei para os braços dele, abraçando-o com força.
— Meu pobre e pequeno Miles! — exclamei. — Meu pobre e pequeno Miles!
Encostei o rosto ao dele e o rapaz deixou que o beijasse, aceitando semelhante demonstração com uma indulgência bem humorada.
— Diga lá, velhota?!