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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 26

E as coisas assim ficaram durante algum tempo: tempo de tal forma preenchido que, quando quero recorda-lo, preciso de esforçar-me para o fazer com clareza. Aquilo que hoje me causa mais espanto prende-se justamente com a situação que acabara de aceitar. Juntamente com a minha companheira, comprometera-me a tratar de tudo, e 0 certo é que me encontrava como que debaixo de um feitiço que parecia ocultar as verdadeiras dimensões e dificuldades de semelhante projecto. Encontrava-me envolta numa vaga onde a paixão se misturava à piedade. Devido à minha ignorância, confusão, talvez mesmo vaidade, parti do principio que era fácil cuidar de um rapaz cuja educação em termos mundanos estava prestes a começar. Ainda hoje sou incapaz de recordar-me da proposta por mim traçada no sentido de, assim que as férias terminassem, o fazer recomeçar os estudos. Uma coisa era certa, e neste ponto todos pareciam estar de acordo: durante o Verão, seria eu que me encarregaria de dar aulas a Miles. Contudo, hoje sinto que, durante várias semanas, quem aprendeu alguma coisa fui eu. Assim, e pelo menos ao principio, aprendi algo que nunca me fora ensinado no decorrer da minha vida simples e calma, ou seja, a divertir-me e a contribuir para que os outros se divertissem, e a não pensar no amanha. De certa forma, aquela era a primeira vez que eu gozava de espaço; ar e liberdade, de todas as melodias do Verão e de todos os mistérios da natureza. E depois era respeitada, considerada, algo que me era particularmente doce. Oh, era como uma armadilha — não propositada, reconheço-o, mas, ainda assim, profunda — para a minha imaginação, a minha delicadeza, talvez mesmo a minha vaidade; em suma, para tudo o que em mim com maior facilidade se inflamava. A melhor forma de descrever a situação talvez seja dizer estar eu totalmente desacautelada. Aqueles garotos davam-me tão pouco trabalho e eram de uma doçura tão extraordinária! Costumava especular um pouco — se bem que estas especulações carecessem de coerência — a respeito da forma como o futuro (pois não é verdade que todos os futuros são duros?) os trataria, acabando por magoá-los de um modo ou de outro.

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pág. 26 (Capítulo 4)

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Capa do livro Calafrio
Páginas: 164
Página atual: 26

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 10
Capítulo 3 16
Capítulo 4 24
Capítulo 5 31
Capítulo 6 38
Capítulo 7 45
Capítulo 8 54
Capítulo 9 61
Capítulo 10 68
Capítulo 11 74
Capítulo 12 80
Capítulo 13 85
Capítulo 14 90
Capítulo 15 96
Capítulo 16 102
Capítulo 17 106
Capítulo 18 111
Capítulo 19 118
Capítulo 20 123
Capítulo 21 128
Capítulo 22 134
Capítulo 23 145
Capítulo 24 150
Capítulo 25 156