Calafrio - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 51 / 164

Não sei muito bem agora como contar esta história em palavras susceptíveis de fornecer um quadro credível do estado de espírito que então me dominava, mas o certo é que me sentia profundamente entusiasmada com o facto de a situação requerer de mim um comportamento heróico. Compreendo agora ter sido chamada a desempenhar uma tarefa tão admirável quanto difícil, e o que me deixava eufórico era imaginar que podia ser bem sucedida, contrastando deste modo com muitas outras raparigas. Sem duvida que me serviu de grande ajuda - e, ao olhar para trás, sinto-me tentada a aplaudir-me! — ter equacionado o problema de um modo assim tão simples. Estava ali para defender as melhores e mais amorosas criatura existentes no mundo, cujo encanto residia precisamente no facto de s encontrarem desprotegidas. Tamanho desamparo chegava a ser doloroso Era como se estivéssemos isolados do resto do mundo, unidos por intermédio do perigo que éramos obrigados a enfrentar. Eles só me tinham a mim, e eu... bem, eu tinha-os a eles. Em suma, aquela parecia-me um oportunidade maravilhosa, que se apresentava perante mim por intermédio de imagens de grande riqueza. Eu devia funcionar como um escudo — algo que deveria interpor-se entre eles e o resto do mundo. Quanto menos eles vissem, melhor. Comecei a observá-los com uma ansiedade dissimula da, a qual, caso a situação se tivesse prolongado por muito tempo, acabariam por levar-me à loucura. Vejo agora que só me salvei porque os acontecimentos sofreram uma reviravolta substancial. A expectativa sucederam-se as provas... sim, as mais terríveis das provas, e eu estava lá para regista tudo.

Esta mudança ocorreu numa tarde em que eu e a minha aluna davam um passeio pelo jardim. Miles ficara em casa, sentado na almofada Arme lha de um dos assentos da janela. O garoto estava interessado em acaba um livro, e eu sentira-me satisfeita ao encorajar a prática de um acto tão louvável pela parte de um garoto cujo único defeito parecia ser uma certa ingenuidade inquieta. Quanto à irmã, de imediato me seguira, e durante cerca de meia hora caminhamos ambas pela sombra, já que o Sol ainda ia alto e o dia estava bastante quente. A medida que avançávamos, compreendia que tanto ela como o irmão (e sem dúvida que este constituía um dos seus maiores encantos) possuíam a capacidade de me deixar só ser dar a sensação de que me haviam abandonado, e de me acompanharem ser que a sua presença me incomodasse.





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