- O argonauta pode deixar a sua concha, mas nunca o faz - disse eu a Conselho.
- É como o Capitão Nemo - respondeu ele, judiciosamente. - Por isso devia ter chamado ao seu navio o “Argonauta”.
Durante cerca de uma hora o “Nautilus” flutuou no meio daqueles milhares de moluscos. Depois, não sei o que lhes deu. Como que obedecendo a um sinal convencionado, todas as velas foram subitamente arriadas, os tentáculos dobrados, os corpos contraídos, as conchas fechadas alterando o seu centro de gravidade e toda a flotilha desapareceu sob as águas. Foi instantâneo e nunca uma esquadra manobrou com tanta precisão.
Naquele momento a noite caiu de repente, e as ondas se alongaram sobre o costado do “Nautilus”.
No dia seguinte, 26 de janeiro, passamos o Equador no meridiano oitenta e dois e entramos no hemisfério boreal. Durante esse dia fomos escoltados por um enorme cardume de esqualos, terríveis animais que pululam naqueles mares, tornando-os perigosos. Esses poderosos predadores precipitaram-se várias vezes contra o vidro do salão, com uma violência pouco tranquilizadora. Ned Land já não se controlava. Queria subir à superfície e arpoar os monstros, sobretudo alguns esqualos-lixas, cujas goelas estão cheias de dentes dispostos em mosaico, e os grandes esqualos-tigres, com cinco metros de comprimento, que o provocavam com uma certa insistência. Porém, aumentando a velocidade, o “Nautilus” não tardou em deixar para trás os mais velozes desses tubarões.
A 27 de janeiro, à entrada do vasto golfo de Bengala deparou-se-nos um espetáculo bem sinistro: cadáveres que flutuavam à superfície das águas. Eram os mortos das cidades indianas, arrastados pelo Ganges até o alto mar.