No fundo, eu desejava esgotar até o fim os acasos do destino que me tinham lançado para bordo do “Nautilus”.
Depois de passarmos pela ilha Keeling, a nossa velocidade diminuiu. Por outro lado, navegamos várias vezes a grandes profundidades. Foram muito utilizados os planos inclinados. Alavancas internas podiam colocar o barco obliquamente na linha de flutuação. Navegávamos assim dois ou três quilômetros, mas sem nunca tocar o fundo do Indico.
A 25 de janeiro, com o mar completamente deserto, o “Nautilus” passou o dia na superfície, batendo as ondas com a sua poderosa hélice e fazendo-as saltar a grande altura. Nessas condições, como seria possível não o tomar por um cetáceo gigantesco? Três quartos do dia passei-os na plataforma olhando o mar. Nada no horizonte, a não ser, por volta das quatro horas da tarde, um vapor que seguia para oeste. A sua mastreação foi visível por um instante. Semi-submerso, o “Nautilus” não seria visível para a tripulação dele.
As cinco da tarde, antes do rápido crepúsculo que liga o dia e a noite nas zonas tropicais, eu e Conselho assistimos maravilhados a um belo espetáculo. Tratava-se de um curioso animal cujo encontro, segundo os Antigos, augurava boa sorte. Aristóteles, Ateneu, Plínio e Opiano tinham-lhe estudado os gostos e esgotado toda a poética dos sábios da Grécia e da Itália com ele. Chamaram-lhe “nautilus” e “pompylius”, mas a ciência moderna não ratificou esses nomes e o molusco em causa denomina-se hoje argonauta.
Ora, era precisamente um cardume de argonautas que viajava então à superfície do oceano. Conseguimos contar várias centenas, pertencentes à espécie dos argonautas tuberculares, característicos dos mares da índia.