Sei muito bem que em certas regiões das ilhas Andamans, os negros não hesitam em atacar o tubarão com um punhal numa das mãos e uma lança na outra, mas sei também que muitos dos que enfrentam esses formidáveis animais não regressam com vida. Além disso eu não sou negro e, mesmo que o fosse, acho que uma ligeira hesitação não seria despropositada.”
Continuando em minhas reflexões lembrei-me de que certamente meu criado Conselho não haveria de querer ir. Assim eu teria uma desculpa para não acompanhar o capitão. Quanto a Ned Land, confesso que já não estava tão seguro de sua sensatez. Um perigo, por maior que fosse, sempre atraía a sua natureza combativa.
Retomei a minha leitura, mas folheava o livro maquinalmente. Via nas entrelinhas mandíbulas terrivelmente abertas. Naquele momento, Conselho e o canadiano entraram no salão com ares tranquilos e até alegres. Não sabiam o que os esperava.
- O Capitão Nemo, diabos o levem, acabou de nos fazer uma proposta muito amável - disse-me Ned Land.
- Ah! - disse eu - já sabem...
- Com licença do senhor - foi a vez do meu criado - o comandante do “Nautilus” nos convidou para visitarmos os magníficos campos de pescas de ostras do Ceilão. Fê-lo em termos urbanos e portou-se como um verdadeiro cavalheiro. Informou-nos ainda de que o senhor irá também.
- Não lhes disse mais nada?
- Mais nada - respondeu o canadiano - a não ser que já lhe tinha falado desse passeio.
- É verdade. Ele não lhes falou de...
- De mais nada, professor.
- Vejo que você faz questão de ir, mestre Land.
- Sim, é exato. Estou muito curioso.
- Talvez haja algum perigo - falei, num tom insinuante.
- Perigo em uma simples excursão a um banco de ostras! – replicou Ned Land.