Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 26: Capítulo 26 Pág. 113 / 258

A nossa passagem, como bandos de marcejas num pântano, levantavam-se cardumes de peixes. Reconheci o javanês, verdadeira serpente com cerca de um metro de comprimento, ventre lívido, facilmente confundível com o congro se não fossem as suas riscas douradas laterais.

A progressiva ascensão do sol iluminava cada vez mais as águas. O solo ia mudando à proporção que andávamos. A areia fina sucedia-se uma verdadeira calçada de calhaus rolados, revestidos por um tapete de moluscos e zoófitos. Foi então que vi exemplares de um caranguejo enorme, classificado por Darwin, ao qual a natureza deu o instinto e a força necessária para se alimentar da noz do coco. Esse caranguejo trepa nos coqueiros da beira-mar, faz cair os cocos quebrando-os na queda. Depois ele os abre com as suas poderosas pinças e come a noz.

Sob as águas claras eles corriam com grande agilidade, enquanto as tartarugas que habitam as costas de Malabar se deslocavam lentamente entre as rochas.

Por volta das sete horas chegamos finalmente ao banco onde as ostras perlíferas se reproduziam aos milhões. O Capitão Nemo apontou-me aquele amontoado prodigioso de “pintadinas” e compreendi que aquela mina era verdadeiramente inesgotável, porque a força criadora da natureza é superior ao instinto de destruição do homem. Ned Land apressou-se a encher uma rede que levava, com os mais belos desses moluscos. Contudo, não podíamos parar. Tínhamos de seguir o capitão que parecia dirigir-se para um ponto determinado. O solo subia sensivelmente e por vezes, se eu levantasse o braço ultrapassaria a superfície das águas. Depois o nível do banco descia caprichosamente.





Os capítulos deste livro