Depois levantou a túnica membranosa e franjada das bordas que formava a cobertura do animal. Entre as pregas foliáceas, vi uma pérola solta cujo tamanho era igual ao de uma noz de coqueiro. A sua forma globulosa, a sua perfeita limpidez e o seu oriente admirável faziam dela uma joia de preço incalculável. Levado pela curiosidade estendi a mão para pegá-la, tocá-la, calcular-lhe o peso. Mas o capitão não permitiu. Fez-me um sinal negativo e retirou o punhal com um movimento rápido deixando que as valvas se fechassem.
Compreendi então qual era a intenção dele. Ao deixar a pérola escondida debaixo da cobertura da ostra, ele queria que ela crescesse ainda mais. Ano após ano a secreção do molusco acrescentaria novas camadas concêntricas ao seu tesouro. Só ele conhecia a gruta onde “amadurecia” aquele admirável fruto do mar. Ele a criava para um dia levá-la para o seu museu.
Talvez tivesse sido ele próprio, seguindo o exemplo dos chineses e dos indianos, a determinar a produção daquela pérola, introduzindo numa prega do molusco um pedaço de vidro ou de metal que, pouco a pouco, foi se cobrindo de matéria nacarada. Comparando aquela pérola com as que eu conhecia, calculei o seu valor em dez milhões de francos. Ela representava uma soberba curiosidade natural e não uma joia de luxo, pois não existiam orelhas femininas que pudessem usá-la.
A visita à opulenta pérola estava terminada. O Capitão Nemo deixou a gruta e voltamos ao banco das “pintadinas”, no meio daquelas águas claras ainda não perturbadas pelo trabalho dos mergulhadores.