Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 26: Capítulo 26 Pág. 116 / 258

Avançávamos separadamente, como se estivéssemos passeando em uma avenida de nossas cidades, cada um de nós parando ou caminhando segundo a sua vontade. Eu já não receava nenhum dos perigos que a minha imaginação tinha exagerado tão ridiculamente. O fundo ia se aproximando da superfície e a minha cabeça saiu à tona do mar. Conselho aproximou-se de mim e me fez um sinal amistoso com os olhos. Aquele planalto elevado media apenas alguns metros e logo voltamos a ser cobertos pelas águas.

Dez minutos depois o capitão parou de repente. Ordenou-nos com um gesto que nos escondêssemos, junto com ele, no fundo de uma grande cavidade. Apontou para uma direção na massa líquida e eu olhei atentamente para o ponto que ele indicava. A cinco metros de nós apareceu uma sombra que desceu até o solo. A inquietante ideia dos tubarões atravessou-me o espírito, mas não havia razão para o meu temor. A sombra não era de nenhum dos monstros que eu tanto temia.

Era um homem, um pescador, um pobre-diabo que fora ceifar antes da época da colheita, certamente premido por alguma dificuldade imprevista. Não tardei a distinguir a quilha do seu barco fundeado a alguns pés acima de nossas cabeças. Ele mergulhava e subia sem parar. Prestei atenção no uso da pedra nos pés, para mergulhar mais rapidamente, que ele punha em prática exatamente como o capitão me explicara.

Aquela pedra era toda a sua ferramenta. Chegado ao fundo, a cerca de cinco metros de profundidade, ajoelhava-se e enchia um saco com ostras apanhadas ao acaso. Subia a seguir, esvaziava o saco no bote, tornava a colocar a pedra nos pés e recomeçava a operação que não durava mais de trinta segundos.





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