- Vejamos, professor - continuou ele, insistente. - Se o Capitão Nemo lhe oferecesse a liberdade hoje mesmo, aceitaria?
- Não sei - respondi, com honestidade.
- E se ele lhe dissesse que essa oferta nunca mais se repetiria?
Não respondi. Ele voltou-se para o meu criado:
- Qual é a opinião do amigo Conselho sobre o assunto?
- O amigo Conselho não tem opinião. Está absolutamente desinteressa do assunto. Tal como o seu amo, tal como o camarada Ned, ele também é solteiro. Não o esperam nem mulher, nem pais e nem filhos.
Está a serviço do Sr. Professor e fala como ele. Embora o lamente, não se pode contar com o amigo Conselho para fazer uma maioria. Para decidir esse assunto só há duas pessoas aqui. O meu amo de um lado e Ned Land do outro. Era só o que eu tinha a dizer.
Não pude deixar de sorrir com a inteligente saída de meu criado, embora ele estivesse anulando totalmente a sua personalidade.
- Então, professor - disse Ned Land. - Uma vez que Conselho não existe, vamos discutir nós dois. Falei e o senhor ouviu. Qual é a sua resposta?
Ele me apertou e eu tinha de lhe responder. As evasivas sempre me repugnaram.
- Amigo Ned, vou lhe dar a minha resposta. Você tem razão e os meus argumentos são fracos diante dos seus. Mas não devemos contar com a boa vontade do Capitão Nemo. A prudência mais elementar não permite que ele nos ponha em liberdade. Por outro lado, essa mesma prudência nos manda aproveitar a primeira ocasião que surgir para deixarmos o “Nautilus”.
- Até agora falou sensatamente, Sr. Aronnax - elogiou ele.
- Mas é necessário que a ocasião seja absolutamente certa, Ned. É preciso que a nossa primeira tentativa de fuga não falhe. Se isso acontecer o Capitão Nemo não nos perdoará e jamais teremos outra oportunidade para deixar este navio.