Ele não me respondeu coisa alguma e veio encostar-se ao vidro. O homem o viu e se aproximou do painel. Para minha grande surpresa os dois se cumprimentaram com acenos de mão. O homem subiu imediatamente à superfície e não apareceu mais.
- Não fique preocupado, professor - disse-me o capitão. - É Nicolas, do Cabo Matapão, alcunhado de “Peixe”. É um mergulhador arrojado e a água é o seu elemento.
Enquanto eu o olhava admirado, sem saber o que dizer, o capitão dirigiu-se para um móvel colocado perto do painel esquerdo do salão.
Junto do móvel eu vi um cofre guarnecido com aros de ferro. Sem se preocupar com a minha presença, ele abriu o móvel e o seu conteúdo me deixou estupefato. Estava cheio de lingotes de ouro. O Capitão Nemo foi pegando-os um a um e arrumando-os metodicamente no cofre, até enchê-lo completamente. Calculei que seriam uns mil quilos de ouro. O cofre foi hermeticamente fechado e o capitão escreveu um endereço em sua tampa com caracteres que deveriam pertencer ao grego moderno.
Feito isso ele apertou um botão sob o painel e apareceram alguns homens que, com bastante dificuldade, levaram o cofre para fora do salão. Depois eu ouvi que o içavam por meio de roldanas pela escada de ferro.
Naquele momento o capitão virou-se para mim e disse:
- Estava falando, professor...
- Eu não disse nada, capitão.
- Então, se me dá licença, desejo-lhe boa-noite.
E dito isto deixou o salão.
Fui para o meu quarto mas não consegui dormir. Haveria alguma relação entre o aparecimento do mergulhador e o cofre cheio de ouro. O caso me intrigava seriamente.