- Talvez não seja possível uma aproximação – opinei.
- Pode ser - concordou o comandante. - Se ele possuir em si mesmo um poder fulminante, é sem dúvida o animal mais terrível saído das mãos de Deus. É por isso, meu caro professor, que estou tendo cautela.
Toda a tripulação ficou acordada aquela noite. Ninguém pensou em dormir. A “Abraham Lincoln”, não podendo competir em velocidade com o animal, moderou a sua marcha e navegava a meio vapor. Por seu lado, o narval, imitando a fragata, deixava-se embalar pelas águas do mar, parecendo decidido a não abandonar o teatro da luta.
A uma hora da madrugada ouviu-se um silvo ensurdecedor, semelhante àquele que é produzido por uma coluna de água arremessada com extrema violência por algum engenho de grande força propulsora.
O Comandante Farragut, Ned Land e eu nos encontrávamos então no tombadilho, perscrutando avidamente as trevas profundas.
- Ned Land, você já ouviu baleias rugindo? - perguntou o comandante.
- Muitas vezes, senhor. Mas nenhuma igual a essa.
- Esse barulho não é igual ao que fazem os cetáceos quando expelem água pelos respiradouros?
- Esse é incomparavelmente mais forte, senhor. Acho que não há engano possível: é mesmo um cetáceo que temos diante dos olhos. Se o senhor autorizar - acrescentou o arpoador - ao nascer o dia vou dar-lhe duas palavrinhas.
- Se ele quiser ouvi-lo, meu caro Land - observei. - Se eu conseguir-me aproximar dele à distância ideal para lançar o arpão, ele terá de me ouvir - afirmou o canadiano.
- Mas para se aproximar - disse o comandante - terei de pôr uma baleeira à sua disposição.
- Sem dúvida, comandante.
- Será arriscar as vidas dos meus homens.