Por isso descemos depois de termos aspirado um pouco de ar puro.
Ned Land, bastante preocupado, seguiu-me para o meu quarto, enquanto Conselho foi diretamente para a sua cabina. A nossa rápida passagem pelo Mediterrâneo não tinha permitido ao canadiano pôr em prática os seus planos de fuga e estava francamente desapontado.
Ele olhou-me em silêncio durante algum tempo, depois que fechei a porta e o fiz sentar-se. Adivinhei que tinha alguma coisa muito importante para me dizer.
- Eu o compreendo, meu caro Ned - iniciei o diálogo com o intuito de deixá-lo mais a vontade - mas você não tem de que se censurar. Nas condições em que o “Nautilus” navegou, pensar em fugir seria uma loucura.
Ele me ouviu e continuou calado. Os seus lábios cerrados e as sobrancelhas franzidas eram sinal de uma violenta obsessão, de uma ideia fixa que o atormentava.
- Não vejo por que se desesperar - continuei a falar tentando vencer o sofrido mutismo dele. - Continuamos seguindo pela costa de Portugal e talvez a caminho da França e da Inglaterra. Se, passando o Estreito de Gibraltal, o “Nautilus” se tivesse feito ao largo, para o sul, se estivesse nos levando para regiões onde não há continentes, então eu partilharia de sua inquietação. Mas já sabemos que o Capitão Nemo não foge dos mares civilizados. Creio que dentro de alguns dias você encontre uma oportunidade segura para agir.
Ned Land olhou-me ainda mais fixamente, seus lábios se moveram e ele disse com determinação:
- É esta noite!
Levantei-me de repente. Confesso que não estava preparado para ouvir aquilo. Quis dizer qualquer coisa mas não encontrei palavras para me expressar.