- Tínhamos combinado esperar por uma boa ocasião - continuou ele. - Pois bem, professor, essa ocasião chegou. Esta noite estaremos a algumas milhas da costa espanhola. A noite está escura e o vento sopra do largo. Deu-me a sua palavra e eu conto com o senhor.
Continuei calado. Ele se levantou e me disse quase ao ouvido
- Esta noite, às nove horas. Conselho já está prevenido. A essa hora o Capitão Nemo estará no seu quarto, dormindo, provavelmente. Da tripulação, os que não estiverem também dormindo, estarão ocupados. Eu e Conselho iremos até a escada central e o senhor ficará na biblioteca aguardando o nosso sinal. Os remos, o mastro e as velas estão dentro do bote. Até logo, professor.
- O mar me parece muito agitado - consegui falar.
- De fato está - disse ele - mas temos de nos arriscar. A liberdade tem o seu preço. O bote é sólido e algumas milhas com o vento ajudando, faz-se rapidamente. Se as circunstâncias nos favorecerem, entre as dez e as onze horas teremos desembarcado em terra firme. Se elas forem contra nós, estaremos mortos. Portanto demos graças a Deus e até logo à noite.
Ele saiu e eu fiquei atordoado. Eu tinha imaginado que quando surgisse aquela ocasião, disporia de tempo para refletir, para discutir e talvez até para adiá-la. De repente eu não tive nada para dizer ao canadiano. Ele tinha toda a razão. Era uma ocasião e deveríamos aproveitá-la. Podia faltar à minha palavra e assumir a responsabilidade de comprometer o futuro dos meus companheiros no meu interesse pessoal?
Naquele momento ouviu-se um forte apito, sinal de que os reservatórios estavam cheios. O “Nautilus” mergulhou nas águas do Atlântico.
Permaneci no meu quarto, porque queria evitar o capitão.