No entanto, não lhe faltaria dinheiro se os seus galeões carregados de ouro e prata, vindos da América, entrassem em seus portos. Ora, no final de 1702, era esperado um fabuloso comboio escoltado por uma frota de vinte e três navios franceses, comandados pelo Almirante Château-Renault, porque as marinhas dos dois países em coligação percorriam então o Atlântico.
“Este comboio devia dirigir-se a Cádis. Mas o almirante, informado de que a frota inglesa cruzava aquelas águas, resolveu rumar para um porto francês. Os comandantes espanhóis dos navios carregados com o ouro protestaram contra essa decisão e exigiram ser conduzidos para um porto espanhol. Não podendo ser o de Cádis, resolveram seguir para a Baía de Vigo, situada na costa noroeste da Espanha e que não estava bloqueada pela esquadra inglesa. O Almirante Château-Renault teve a fraqueza de aceitar essa imposição e os galeões rumaram para Vigo. Essa baía forma um ancoradouro aberto, difícil de ser defendido. Portanto, era necessário descarregar rapidamente os galeões antes da chegada da frota inimiga. O tempo teria sido suficiente para esse desembarque se não tivesse surgido uma rivalidade.
- Está seguindo o desenrolar dos fatos, professor? - perguntou-me o Capitão Nemo.
- Perfeitamente, capitão - respondi, não conseguindo adivinhar com que propósito me estava ele a contar aquela história.
- Então eu continuo. Eis o que se passou: os comerciantes de Cádis tinham um privilégio segundo o qual deviam receber todas as mercadorias vindas das índias Ocidentais. Ora, desembarcar os lingotes de ouro dos galeões, no porto de Vigo, era ir contra esse direito. Queixaram-se portanto, e obtiveram do fraco Felipe V que o comboio, sem proceder à descarga, permanecesse sequestrado no ancoradouro de Vigo até o momento em que as frotas inimigas se afastassem.