Todo o dia 22 de fevereiro foi passado no Mar dos Sargaços. No dia seguinte o mar havia retomado o seu aspeto habitual. Nos dias que se seguiram, navegando sempre pelo meio do Atlântico, o “Nautilus” avançava a uma velocidade constante de cem léguas em cada vinte e quatro horas. Era evidente que o Capitão Nemo queria cumprir o seu programa de viagem. Eu não duvidava que, dobrado o Cabo Horn, ele voltasse aos mares austrais do Pacífico.
Portanto, Ned Land tivera razão para recear. Nesses mares imensos, sem ilhas, não era possível tentar uma fuga. Por outro lado, não tínhamos meios de nos opormos aos desígnios do capitão. A única coisa a fazer era obedecer. Mas aquilo que não se podia alcançar pela força e pela manha, também não se devia tentar obter por persuasão. Terminada aquela viagem, talvez o capitão consentisse em nos dar a liberdade sob juramento de nunca revelarmos a sua existência. Juramento de honra que faríamos. Eu tinha de conversar sobre isso com ele.
Desde o início, o Capitão Nemo havia declarado, de uma maneira formal, que o segredo da sua vida exigia a nossa prisão perpétua a bordo do “Nautilus”. Éramos seus prisioneiros há quatro meses e o meu silêncio sobre esse assunto não deixava de ser uma concordância tácita com essa situação. Eu sempre pensava que uma discussão do problema tivesse como resultado fazê-lo ficar em permanente estado de alerta contra nós. Isso poderia prejudicar o aproveitamento, com sucesso, de alguma oportunidade de fuga que tivéssemos. Em suma, embora eu não fosse pessimista compreendia que as possibilidades de voltarmos ao convívio de nossos conhecidos e parentes diminuíam de dia para dia, à medida que o Capitão Nemo corria como um temerário o Atlântico Sul.