De 23 de fevereiro a 12 de março não houve qualquer incidente digno de nota e eu raras vezes vi o capitão. As vezes ouvia ressoar os sons melancólicos do seu órgão que tocava com muito sentimento, sempre à noite, no meio da maior obscuridade, quando o “Nautilus” adormecia nos desertos do oceano.
Durante essa parte da viagem navegamos dias inteiros à superfície. O mar parecia abandonado. Apenas alguns barcos a vela, com carga para a índia, se dirigiam para o Cabo da Boa Esperança. Um dia fomos perseguidos pelas lanchas de um baleeiro, que sem dúvida nos tomara por uma enorme baleia de alto valor. O Capitão Nemo não quis que os pescadores perdessem tempo e trabalho e pôs um ponto final na caçada, mergulhando nas águas.
Nessa região encontramos grandes cães-do-mar, que são peixes extremamente vorazes. Não se deve acreditar nas histórias dos pescadores, mas aqui vai o que contam. Encontrarem no corpo de um desses animais uma cabeça de búfalo e uma vitela inteira. Em um outro deles foram achados dois atuns e um marinheiro fardado. Num terceiro, um soldado com o sabre e, finalmente, num quarto, um cavalo com o seu cavaleiro. São histórias que eu ouvi contar e passo à frente sem qualquer responsabilidade quanto à sua veracidade.
Até o dia 13 de março a nossa navegação continuou nessas condições. Nesse dia o “Nautilus” fez algumas experiências de sondagem que me interessaram muito. Tínhamos percorrido até essa data cerca de treze mil léguas, desde a nossa partida dos mares do Pacífico. O ponto nos indicava 45° 37' de latitude sul e 37° 53' de longitude oeste.