Quando anunciei aos meus companheiros a nossa intenção de irmos até o Pólo Sul, Conselho ficou impassível. Disse apenas um “como o senhor quiser” e não fez nenhum comentário. Quanto a Ned Land, encolheu os ombros e fez um gesto significativo de sua impotência para nos impedir de cometermos aquela loucura.
- O senhor e o Capitão Nemo estão se tornando dignos de piedade - falou com uma seriedade que não deixava dúvidas de sua total condenação ao nosso projeto.
- Nós iremos ao pólo, Land - reafirmei, convicto.
- É possível. Mas não regressarão!
Saiu para o seu camarote depois de dizer a Conselho que ia-se retirar para não falar nenhuma inconveniência mais grave.
Os preparativos para a audaciosa tentativa começaram. As potentes bombas do “Nautilus” armazenaram o ar nos reservatórios. As quatro horas da tarde, o Capitão Nemo me avisou de que os alçapões iam ser fechados. Lancei um último olhar ao espesso banco de gelo que íamos vencer. O tempo estava claro, a atmosfera pura e o termômetro marcava doze graus abaixo de zero. Não era uma temperatura insuportável.
Um dezena de tripulantes subiu ao flanco do barco armados de picaretas e quebraram o gelo em redor da quilha, libertando-a. Foi uma operação rápida. O gelo ali era recente e ainda estava delgado. Descemos todos para o interior, os reservatórios de água foram cheios e o “Nautilus” não tardou a submergir.
A cerca de trezentos metros de profundidade, tal como o Capitão Nemo havia previsto, navegávamos sob a superfície inferior do banco de gelo. Mas o submarino desceu ainda mais, atingindo uma profundidade de oitocentos metros.