Naquele dia, o sexto do nosso aprisionamento, o Capitão Nemo, achando que a picareta era muito lenta, resolveu esmagar a camada de gelo que ainda nos separava da camada líquida. Aquele homem tinha conservado o sangue-frio e a energia. Com a sua força moral, ele dominava as dores físicas. Pensava, combinava, agia.
A uma ordem sua, o navio foi elevado. Uma vez a flutuar, foi manobrado de forma a ficar por cima do imenso fosso desenhado segundo a sua linha de flutuação. Então toda a tripulação entrou a bordo e a dupla porta de comunicação foi fechada. O “Nautilus” repousava agora na camada de gelo que não tinha mais de um metro de espessura e que a sonda tinha furado em mais de mil locais.
As torneiras dos reservatórios foram abertas, permitindo a entrada de cem metros cúbicos de água, aumentando em cem mil quilos o peso do submarino. Esperávamos, escutávamos, esquecendo o nosso sofrimento. Era a nossa última oportunidade de salvação.
Apesar do latejar da minha cabeça, ouvi distintamente ruídos debaixo do casco do “Nautilus”. Ocorreu um desnivelamento. O gelo quebrou-se com um estalido semelhante ao do papel ao ser rasgado, e o submarino desceu.
- Passamos! - murmurou Conselho ao meu ouvido. Levado pela sua enorme sobrecarga, o “Nautilus” desceu como se tivesse caído no vazio. Então foi transmitida toda a força às bombas e elas começaram a expelir a água dos reservatórios. Após alguns minutos a nossa queda foi suspensa e o manômetro começou a marcar um movimento ascensional.
Mas quanto tempo duraria a navegação sob o banco de gelo? Prostrado num divã da biblioteca, eu me sentia sufocar. Já não via e nem ouvia.