- Não, deixe-me tratar do assunto. Amanhã...
- Hoje - disse Ned Land.
- Seja. Hoje falo com ele - prometi ao canadiano. Eu não podia deixar que ele fosse pessoalmente conversar com o capitão sobre um assunto tão melindroso.
Fiquei só. Decidida a questão, resolvi acabar com ela imediatamente. Gosto mais das coisas feitas do que das que estão por fazer. Entrei no meu quarto e ouvi passos no do Capitão Nemo. Não podia deixar passar aquela ocasião para falar com ele. Bati na porta e ele não atendeu. Bati uma segunda vez e rodei o trinco. A porta abriu-se. Penetrei no quarto dele. O capitão estava curvado sobre a mesa de trabalho e não tinha me ouvido. Resolvido a não deixar o quarto sem falar com ele, aproximei-me. Ele levantou a cabeça bruscamente, franziu o sobrolho e me perguntou num tom bastante rude:
- O senhor aqui! Que deseja?
- Falar-lhe, capitão.
- Não vê que estou ocupado, que estou trabalhando? Quero ter para mim a liberdade que lhe dou de não ser incomodado.
A receção era pouco encorajadora, mas eu estava decidido a ouvir tudo, para poder falar depois tudo o que desejasse.
- Tenho que falar de um assunto urgente.
- Que assunto? - notei um tom de ironia na voz dele. - Fez alguma descoberta que me escapou? O mar lhe revelou mais algum dos seus grandes segredos?
Estávamos muito longe do assunto que me interessava. Antes que eu pudesse responder às perguntas dele, o capitão me mostrou um manuscrito aberto sobre a sua mesa e me disse num tom mais grave.
- Aqui tem, professor, um manuscrito em várias línguas. Contém o resumo dos meus estudos do mar e, se Deus quiser, não morrerá comigo. Este manuscrito, assinado por mim e completado com a história de minha vida, será fechado dentro de um pequeno aparelho insubmergível.