- Como? Disparam contra nós? - estranhei.
- Aí valentes! - gritou o canadiano.
- Deveriam tomar-nos por náufragos agarrados a um destroço!
Entretanto as balas multiplicavam-se à nossa volta. O couraçado encontrava-se a três milhas de distância. Ned Land, muito emocionado, disse-me que deveríamos fazer algum sinal para o navio atacante. Sem que eu pudesse impedi-lo, tirou o lenço e começou a acenar com ele.
Mal tinha feito o primeiro gesto, uma mão de ferro derrubou-o.
- Miserável! - gritou o capitão. - Quer ser pregado no esporão do “Nautilus”? Quer que eu faça isso com você, antes de destruir aquele navio que me está a atacar?
O Capitão Nemo, terrível de se ouvir, era ainda mais terrível de se ver. Com o rosto transtornado pela cólera, ele não falava. Rugia. Com o corpo inclinado para a frente, apertava com a mão no ombro do canadiano como se fosse esmigalhá-lo. Depois, abandonando-o, virou-se para o navio de guerra, cujas; balas continuavam a cair à volta dele e gritou
- Sabe quem eu sou, navio de uma nação maldita? Não precisarei de ver as suas cores para saber a que país pertence! Olhe! Vou lhe mostrar as minhas cores!
Acabou de falar e desfraldou na popa da plataforma um pavilhão negro, semelhante ao que tinha colocado no Pólo Sul. Depois dirigiu-se a mim e falou apressado:
- Desça, desça com os seus companheiros!
- Vai atacar aquele navio, capitão?
- Vou afundá-lo!
- O senhor não fará tal coisa!
- Farei - respondeu-me friamente. - Não se arrogue o direito de me julgar, professor! A fatalidade lhe mostra o que não deveria ver. Fui atacado e minha resposta será terrível. Agora desçam!
- Que navio é aquele? - insisti.