- Se não sabe, tanto melhor. Pelo menos a sua nacionalidade continuará a ser um segredo para vocês. Desçam! - gritou irado.
Não pudemos fazer nada mais do que obedecê-lo. Mas antes de deixar a plataforma eu ainda fiz um gesto de quem ia falar. Ele me impôs silêncio e usou mais uma vez da palavra
- Eu sou o direito, eu sou a justiça! Sou o oprimido e ali está o opressor! Foi por causa dele que vi morrer tudo que eu amava e venerava: pátria, mulher, filhos, pai e mãe! Tudo o que odeio está ali. Cale-se e desça!
Depois que descemos, percebi que o Capitão Nemo iniciara as manobras para atrair sua vítima. Tal como fizera com a fragata “Abraham Lincoln”, ele fingia fugir para chamar o contedor à posição que fosse melhor para o seu ataque fulminante.
Um ruído bem conhecido indicou-me que a água penetrava nos reservatórios de bordo. Em poucos minutos o “Nautilus” submergiu e parou poucos metros abaixo da superfície. Compreendi a manobra, mas era impotente para evitar a destruição do navio de guerra. O “Nautilus” não tencionava atacá-lo na sua impenetrável couraça, mas por baixo da linha de flutuação, onde a carapaça já não protege o casco.
Entretanto, a velocidade do submarino foi aumentada consideravelmente. Todo o seu casco tremia. De repente e sem querer, soltei um grito.
Houve um choque relativamente ligeiro. Senti a força penetrante do esporão de aço. Ouvi ruídos de algo que se esgarçava, que se rasgava.
O “Nautilus”,impelido pelo seu poder de propulsão, passara através do casco do navio, como a agulha do marinheiro através do pano!
Não pude me conter. Louco, desvairado, saí do quarto e corri para o salão. O Capitão Nemo encontrava-se lá. Silencioso, sombrio, implacável, olhando através do painel de bombordo.