Para diante era aquela porção do globo terrestre que ele não queria tornar a pisar.
De regresso ao “Nautilus” andávamos calmamente quando vi o Capitão Nemo apontar a arma e seguir um vulto móvel que se insinuava entre os arbustos. A bala partiu, ouvi um fraco silvo e um animal foi cair fulminado a alguns passos de nós. Era uma magnífica lontra do mar, o único quadrúpede exclusivamente marinho. O companheiro do capitão apanhou o animal, colocou-o sobre os ombros e continuamos a caminhar. Durante duas horas atravessamos, ora planícies arenosas ora pradarias de sargaço, muito difíceis de se caminhar nelas. Francamente eu já não aguentava mais, quando avistei uma luz fraca a cerca de, meia milha, rompendo a obscuridade das águas. Era o farol do “Nautilus”. Fiquei realmente satisfeito com a proximidade do descanso.
Eu tinha ficado uns vinte passos para trás, quando vi o Capitão Nemo retroceder em minha direção. Com a sua mão vigorosa atirou-me ao chão, enquanto o seu companheiro fazia o mesmo ao meu criado. A princípio eu não soube o que pensar daquele ataque brusco, mas fiquei mais tranquilo ao ver que o capitão se deitava a meu lado e permanecia imóvel. Estávamos estendidos no solo e abrigados por uma moita de sargaços, quando ao levantar a cabeça vi duas enormes massas que passavam ruidosamente, lançando clarões fosforescentes.
O sangue gelou-se-me nas veias ao reconhecer os enormes esqualos que nos ameaçavam. Era um casal de “tintoreas”, terríveis tubarões, com uma cauda comprida, olhar vítreo, que expelem uma matéria fosforescente por uns orifícios que possuem à volta do focinho.