Às oito horas da manhã seguinte, subi à plataforma. Os indígenas continuavam na praia, mas em número bem superior aos que eu vira na véspera. Agora seriam uns quinhentos ou seiscentos. Aproveitando a maré baixa alguns deles tinham avançado pelos corais e estavam a menos de quatrocentos metros do submarino. Eu podia vê-los muito bem. Eram papuas, de porte atlético, homens de uma bela raça, de testa alta, nariz grosso mas não achatado e dentes brancos. Em geral, andavam nus. Notei a presença de algumas mulheres, vestidas com uma verdadeira saia de ervas presa na cintura cobrindo até os joelhos.
Quase todos os homens estavam armados de arcos, flechas e portavam escudos. Traziam ao ombro uma espécie de rede que continha as pedras arredondadas que atiram certeiramente com as fundas.
Um dos chefes, bastante próximo do “Nautilus”, observava-o com atenção. Devia ser um “mado” de alta estirpe, porque trazia uma esteira de folhas de bananeira, recortada nas pontas e pintada com diversas cores. Eu poderia facilmente abatê-lo com um tiro, mas pensei que seria melhor aguardar demonstrações mais hostis da parte deles. Entre europeus e selvagens, convém que os europeus não ataquem primeiro.
Durante todo o tempo que durou a maré baixa, os indígenas rondaram perto do “Nautilus”, mas não se mostraram agressivos. Eu os ouvia dizendo seguidamente a palavra “assai”, e pelos seus gestos compreendi que me convidavam para ir a terra, convite que não aceitei. As onze horas da manhã, quando as cristas dos corais começaram a desaparecer sob as águas da maré que subia, eles voltaram para a terra.
Não tendo nada de melhor para fazer, chamei Conselho e pedi-lhe que me trouxesse uma rede pequena, dessas utilizadas para apanhar ostras. Eu mal distinguia a ilha, mas as numerosas fogueiras acesas na praia indicavam que os indígenas não a tinham abandonado. Permaneci um longo tempo atento a qualquer movimentação deles. Por volta da meia-noite, vendo que tudo continuava tranquilo, voltei para o meu quarto e dormi sem maiores preocupações.