Fui diretamente ao salão de onde saíam alguns acordes de órgão. Encontrei o Capitão Nemo curvado sobre ele e mergulhado num verdadeiro êxtase musical. Precisei de chamá-lo duas vezes, para que me desse atenção.
- Ah! É o professor - falou, voltando-se para mim. - Então fez boa caçada?
- Sim, capitão, mas infelizmente trouxemos um bando de bípedes cuja presença me parece muito inquietante.
- Selvagens - adivinhou ele e comentou num tom irônico. - O senhor admira-se de ter encontrado selvagens nesta região? Onde é que não há selvagens, professor? Aliás, os daqui serão piores do que aqueles que o senhor não considera como tais?
- Mas, capitão...
- Eu pelo menos os tenho encontrado em todos os lugares.
- Pois bem, não vou discutir o seu ponto de vista. Mas se não quer receber os selvagens daqui, a bordo do “Nautilus”, acho que deve tomar algumas precauções.
- Tranquilize-se, professor, não há motivo para preocupações.
- Mas são numerosos, capitão. Há uma centena deles vindo para cá.
- Sr. Aronnax - disse ele, voltando sua atenção para o teclado do órgão - mesmo que todos os indígenas da Papuásia se tivessem reunido na praia, o “Nautilus” nada teria a recear dos seus ataques.
Os dedos do capitão começaram então a percorrer o teclado. Notei que ele tocava apenas nas teclas pretas, o que dava à música um colorido essencialmente escocês. Não tardou a esquecer a minha presença e a mergulhar num devaneio que eu não quis perturbar.
Subi à plataforma. Já era noite, porque naquela latitude o sol se põe rapidamente e sem crepúsculo.